O trabalho consiste numa revisão minuciosa da presença da canção popular como objeto na obra crítica de Antonio Candido. A partir dessa presença, indicar como o tema, mesmo não tendo obtido centralidade, permeia a obra do estudioso e opera na estruturação de sua visada dialética acerca de assuntos que lhe parecem ser mais centrais, como modernismo, malandragem, cultura popular, dentre outros. Acompanhar a maneira como Candido aborda a canção popular ao longo dos ensaios também nos permite divisar tanto o lugar da canção popular na inteligência da classe média brasileira, quanto a aceitação da canção como objeto literário dos estudos acadêmicos brasileiros. Salvo melhor juízo, pensando que Antonio Candido teria realizado criticamente os primeiros ensaios verdadeiramente dialéticos, e tudo que disso se depreende, caso observermos, por exemplo, a leitura de Paulo Arantes a respeito da dialética candidiana, a lateralidade da canção popular não só contribui a seu modo com a visão de mundo e com as análises de Candido, como também representam os avanços e retrocessos da canção como matéria "visível" e formadora da sociedade brasileira. Desta forma, a canção se torna uma espécie de signo também de outras práticas e matérias, como a oralidade, a música, as manifestações populares etc.