Compreendendo a relação entre fala e escrita não de forma dicotômica, mas num continuum linguístico (BIBER, 1986), nosso estudo assume um aparato teórico dos estudos da polidez, tradicionalmente voltado para interações orais dialogadas, para se compreender fenômenos que também fazem parte da modalidade escrita. Parte-se de um conceito de polidez com base em Kerbrat-Orecchioni (2006), que, baseando-se em Brown e Levinson (1987), compreende a existência: tanto de uma polidez positiva, que consiste exatamente em produzir um ato que tenha um caráter essencialmente “antiameaçador”, que valorize às faces em jogo na interação; quanto de uma polidez negativa, que concerne aos atos que a autora descreve como “suavizadores”, que agem no sentido de minimizar possíveis ameaças às faces. Assumindo os enunciados não como previamente polidos ou impolidos, mas como sendo percebidos pelos participantes como polidos ou não, compreendemos ser fundamental interpretar as bases das percepções dessas estratégias, que se traduzem por expectativas de comportamento, conceito que tomamos de empréstimo de Spencer-Oatey (2005) para estudarmos como os autores das resenhas categorizam seus prováveis interlocutores: autor resenhado, especialistas na área, professor da disciplina, leitores comuns etc. Através dessas noções, dedicamo-nos a analisar algumas estratégias de polidez mais recorrentes em: 8 (oito) resenhas publicadas em periódicos; 8 (oito) resenhas escritas por estudantes de graduação; e 8 (oito) resenhas escritas por estudantes de Ensino Médio. Com base nessas recorrências, analisamos possíveis correlações entre pontos de ocorrência das estratégias de polidez, suas respectivas funções sociointeracionais e aspectos composicionais do gênero. A partir disso, produzimos ainda algumas reflexões sobre o ensino-aprendizagem da resenha, investigando a produtividade desse gênero enquanto ferramenta de reflexão e compreensão textual (SCHNEUWLY; DOLZ, 2004). Os resultados das análises indicam tanto uma correlação entre pontos de ocorrência das estratégias e a estrutura composicional da resenha, quanto uma possível eficácia desse gênero enquanto ferramenta didático-pedagógica.