O presente trabalho se dedica a compreender as construções de sentido constantes na exposição permanente do Museu do Homem do Nordeste. Nesta, se encontram dispostos elementos constitutivos da identidade brasileira e, de forma mais específica, de um projeto reativo à tentativa de homogeneização implícita ao processo de estabelecimento do Estado-Nação Moderno, expresso a partir do manifesto regionalista.
Nessa medida, busca-se compreender a exposição levando em conta continuidades e rupturas expressas a partir de: 1) o conjunto urbano dos bairros que circundam a Fundação Joaquim Nabuco, caracterizados fundamentalmente pela presença de uma elite agrária; 2) os discursos formulados pelo seu fundador da instituição e idealizador da musealização da cultura recifense e nordestina, Gilberto Freyre; e 3) as lógicas de aproximação e distanciamento presentes construção discursiva do espaço museal.
A partir disso, busca-se localizar discursivamente a construção das tradições e memórias dos expoentes culturais da Cidade do Recife além dos mecanismos de operar os esquecimentos e produzir vazios sociais e de significantes. Nesse sentido, constitui-se um ambiente repleto de Casas Grandes e isento de Senzalas; por um lado, dotado de grandes famílias coloniais, e por outro, ausente da tradição patriarcal de torturas e castigos corporais.
Dessa forma, tem-se que a construção sistemática de pessoas e lugares brancos muito específicos e historicamente localizados se dão na mesma medida que os signos negros se perdem em elementos discursivos de distanciamento e genéricos, repousados em noções mais amplas de etnia, povo ou raça. Isso se dá de tal forma que as histórias contidas nos objetos "brancos" se mostram produtores de "pessoa", ao passo que as pessoas negras tornam-se "negros genéricos" e sem história. Por fim, o branqueamento social expresso pela especulação imobiliária na região se mostra integrante de um projeto muito anterior e mais amplo que a modernização dos lugares.