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Simpósio Mundial de Estudos de Língua Portuguesa
Resumo


Graciliano e Dostoiévski: crime e resistência

Autores:
Mauro Lopes Leal (UFPA - Universidade Federal do Pará)

Resumo:

O fenômeno do niilismo é, não raro, atrelado aos aspectos mais negativos do homem e da sociedade: a perda de um referencial religioso centrado em uma imagem divina, a descrença nos valores norteadores da existência ou o desamparo motivado pela concepção de que a vida é passageira e finita. Entretanto, a má interpretação da sentença nietzschiana de que se ‘Deus está morto tudo é permitido’, concepção esta inicialmente exposta por Dostoiévski em Os Irmãos Karamázov, deve ser revista e reavaliada, uma vez que a destruição de determinados valores não representa a imersão do homem no nada absoluto: pode também representar a possibilidade de novas concepções, assim como indicar um estado de resistência aos padrões instituidos e aceitos como inquestionáveis. Nesse aspecto, Graciliano Ramos e Fiódor Dostoiévski apresentam olhares que dialogam entre si, uma vez que seus personagens, Luís da Silva e Raskólnikov, pertencentes às obras Angústia e Crime e Castigo, respectivamente, podem ser observados sob a ótica do niilismo, pois ambos subvertem os valores que os oprimem e buscam, através do ato criminoso, a resistência, mesmo que brutal, contra o sistema que não apenas os cerceiam, mas também os desumanizam. A pobreza, a humilhação, a vergonha, a exclusão da parte social considerada bem sucedida, conduz os referidos personagens ao assassinato: Luís retira a vida de Julião, rapaz rico que seduz sua noiva; Raskólnikov comete o mesmo crime contra uma velha usurária, que empresta dinheiro a juros elevados. Julião e a velha usurária representam a desigualdade, a insufuciência financeira do outro, o desespero, a raiva e o desejo de vingança de Luís e Raskolnikov. Nietzsche e Roberto Schwarz darão embasamento teórico ao trabalho, posto que, o primeiro foi profundo estudioso do fenômeno niilista e o segundo teorizou, dentre inúmeras questões, sobre a presença da pobreza nos romances brasileiro.


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