Imprimir Resumo


Simpósio Mundial de Estudos de Língua Portuguesa
Resumo


ESCRITA EM PORTUGUÊS COMO FORMA DE PRODUÇÃO DA NÃO-EXISTÊNCIA DO/A SURDO/A

Autores:
Hildomar José de Lima (UFG - Universidade Federal de Goiás)

Resumo:

Boaventura de Sousa Santos (2002) discute cinco diferentes lógicas ou modos sociais de produção da não existência de um povo. Entre elas está a monocultura do saber e do rigor do saber e a lógica da classificação social. A primeira se caracteriza especialmente pelas posturas e práticas linguísticas imperialistas que desvalorizam politicamente a língua de um povo, uma lógica da ciência moderna que atua numa “dinâmica de colonialidade que marca a relação entre os saberes científicos e outros saberes e modos de conhecimento” (NUNES, 2009, p. 222). A segunda lógica consiste em categorizar as pessoas como uma forma de naturalizar as relações hierárquicas por meio da comparação. No que se refere ao ensino de português para pessoas surdas parte-se, geralmente, de um cânone epistemológico de português que considera a cosmovisão e modos de conhecimentos das pessoas que têm como natural uma língua de base epistêmica oral, e, por isso, compreenderão as regras de funcionamento dessa língua e transfere para as pessoas de natureza linguístico-epistêmica mais visual a necessidade de um domínio semelhante dessa língua. Pretende-se, neste texto, refletir o ensino de português escrito para surdos/as e problematizar a concepção hegemônica de língua que tem como fundamento a oralidade no processo de ensino dessa língua para pessoas surdas. Para isso, argumenta-se a favor da existência de um português do/a surdo/a com características que podem apontar traços de uma identidade linguística, seguramente surda. Com base na proposta de “sociologia das ausências” (SANTOS, 2002), português do/a surdo/a é entendido, neste texto, como uma alternativa epistemológica às totalidades hegemônicas da razão metonímica com a possibilidade de tornar existente quem a razão metonímica tem tornado inexistente, deixar que sejam surdos/as aqueles/as que o projeto de modernidade e de globalização insiste transformar em ouvintes.