Partindo do pressuposto de que os grupos humanos desenvolvem especificidades lexicais em relação ao léxico da língua geral, em função, entre outros fatores, das suas particularidades de circunscrição étnica, histórica, cultural, social, das diversificadas experiências construídas com seus pares, com o outro, com o espaço circundante, enfim, de sua singular visão de mundo, constatamos que essa abordagem, mais frequentemente realizada sobre o corpus linguístico de comunidades quilombolas rurais brasileiras, poderia, também, nos fornecer orientações para a resolução da seguinte questão de pesquisa: quais especificidades denominativas e, sobretudo, quais especificidades semântico-conceptuais revelam a singular visão de mundo construída pelos chamados quilombos urbanos ludovicenses? Nesse sentido, temos como objetivo principal identificar e analisar as especificidades denominativas e, principalmente, as especificidades semântico-conceptuais dos quilombos constituídos em território urbano ludovicense, denominados Bairro de Fátima e Liberdade ― indiscutíveis redutos de negros/as cujos antepassados, em geral, são advindos de diversos quilombos rurais maranhenses ― que revelem a singularidade de sua visão de mundo. Mais especificamente, serão analisadas as relações léxico-semânticas e, sobretudo, as semântico-conceptuais estabelecidas nas unidades lexicais distribuídas em campos semânticos como territorialidade, ritual/espiritualidade, alimentação, trabalho/entretenimento, doença, lazer, vestuário, etc. A fundamentação teórico-metodológica deste estudo baseia-se, sobretudo, em GREIMAS (1973, 2008), HJELMSLEV (1975), SAPIR (1912, 1921, 1929), POTTIER (1970), HYME (1962, 1964), BARBOSA (1993, 2004, 2007, 2009) e PAIS (1995, 2003).  No momento, seguimos transcrevendo as últimas entrevistas, analisando os dados coletados e compilando o léxico que reflete a identidade desses quilombos urbanos ludovicenses. A importância deste trabalho pode ser evidenciada pela necessidade de investigação lexical sob a perspectiva etnoterminológica, ainda não explorada anteriormente sobre o léxico de grupos negros ludovicenses, e, em especial, pela necessidade de, a partir de uma análise etnoterminológica, apresentarmos dados que gerem uma panorâmica da visão de mundo específica dos quilombolas urbanos ludovicenses.