A construção da evidência da divisão entre gramática e linguística seus efeitos na constituição do português como língua escolar | Autores: Ana Cláudia Fernandes Ferreira (IEL/UNICAMP - Instituto de Estudos da Linguagem/Universidade Estadual de Campinas) |
Resumo: Este trabalho objetiva refletir sobre os processos de construção do saber metalinguístico que levaram a uma divisão entre gramática e linguística na história brasileira, com efeitos na constituição do português como língua escolar. Para esta reflexão, apontarei alguns aspectos ligados a esses processos na história das ideias linguísticas: a) gramatização do século XVI; b) a constituição da gramática/linguística histórica no século XIX; c) o papel de uma teoria dominante da gramática/linguística histórica no processo brasileiro de escolarização do saber nos séculos XIX a XXI; c) a constituição, nesse processo, de diferentes lugares institucionais para a gramática e para a linguística, que envolvem relações/divisões como: ensino de língua/gramática; ensino, pesquisa e extensão; ciência, ensino da ciência, ensino e ciência; ciência e divulgação científica; d) deslizamentos de sentidos entre: arte e ciência; descrição e prescrição; norma e ciência; ligados à construção do saber (sobre) a(s) língua(s), sua disciplinarização e sua didatização. Nesse percurso, será possível vislumbrar como a constituição da linguística está necessariamente afetada pela constituição da gramática, ainda que não haja uma continuidade direta, no espaço brasileiro, entre a gramática do século XIX e a linguística dos séculos XX e XXI. Considerando o fato de que a linguística se constitui como a ciência da língua e das línguas, essa duplicidade do próprio objeto da linguística permitiu impulsionar um movimento tenso e contraditório entre saber a língua e saber sobre a língua que vem atravessando os estudos metalinguísticos. Nesse movimento, os delineamentos que esses estudos tiveram no espaço brasileiro contribuíram para a construção de uma evidência: a de uma divisão sempre já-lá entre a gramática e a linguística. Efeito de evidência que legitima novos modos de pensar a língua na escola. Mas... será?
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