O século XX é caracterizado como um período conturbado da história mundial, marcado por guerras e ascensões de regimes totalitários. Podemos observar essa caracterização emergir do discurso de Eric Hobsbawn (1995) no livro A era dos extremos, pois é nesse estudo que ele aponta o delineamento catastrófico em múltiplos setores: social, humano, ecológico e outros. Ao trazermos a “era dos extremos” para o contexto brasileiro, nos deparamos com um período extenso e atroz de 21 anos (1964 a 1985), em que o Brasil esteve condicionado sob o senhorio de militares presidentes que passaram a governar de forma rígida o país. É nesse espaço que encontramos o Francisco Buarque de Hollanda, mais conhecido como Chico Buarque, dramaturgo, músico e escritor; um nome representativo no cenário cultural do Brasil. Em 1975, em pleno regime militar, o escritor produz uma narrativa intitulada Fazenda Modelo: novela pecuária, cujo enredo tece uma crítica a esse sistema político. A obra está ambientada em uma fazenda, em que os personagens são bois e vacas, dramatizando ações humanas. Diante disso, o presente estudo visa analisar o período em que a obra fora produzida, sob uma perspectiva literária que possa atingir os aspectos histórico-sociológico do contexto de produção. Assim, comungamos com a visão de que a arte e a literatura não devem se esquivar do horror e das barbáries advindas dos episódios conturbados da história mundial. A metodologia será de pesquisa bibliográfica, fundamentada em críticos e teóricos que conferem a literatura um caráter crítico reflexivo; como é possível observar nas ideias defendidas por Theodor Adorno, Walter Benjamin, entre outros; autores que argumentam sobre como os elementos sociais incidem na forma de produzir arte.