Imprimir Resumo


Simpósio Mundial de Estudos de Língua Portuguesa
Resumo


RESSIGNIFICAÇÃO DO CORPO EM CLARICE LISPECTOR: UMA LEITURA DA QUESTÃO DO FEMININO NO CONTO ELE ME BEBEU

Autores:
Julie Christie Damasceno Leal (UFPA - Universidade Federal do Pará)

Resumo:

Clarice Lispector, escritora singular por sua capacidade de escrutínio do que há de mais ínfimo no ser humano, sobretudo, nos aspectos existencial e ontológico, pode ser reconhecida também por seu olhar aguçado em torno da caracterização de personagens femininas. No conto "Ele me bebeu", de A Via Crucis do Corpo, temos o deslindar de uma personagem, a bela Aurélia, às voltas com um dilema de cunho existencial, a perda de sua individualidade, de seu corpo, daquilo que reconhecia enquanto 'eu'.  Aos poucos, a personagem compreende-se vítima de um apagamento de si, impetrado pelo maquiador Serjoca. Porém, quando as antigas feições ornadas pelo excesso de maquiagem desaparecem, levando-a a  uma confrontação com o nada em que acabara de se transformar, essa mesma nadificação acaba por criar as possibilidades de um nascimento de si não mais amalgamado pelas concepções usuais de belo e feminino. Corpo, nesse sentido, é mais do que rotulações ou formas pré-estabelecidas. Ele marca o que cada ser humano é. E não apenas isto, ele também é perspectiva, possibilidade. É sobre esta última visão que Clarice Lispector nos argumenta em sua obra A Via Crucis do Corpo, mais especificamente no conto “Ele me bebeu”. No referido conto, conforme vimos, Lispector apresenta ao seu leitor a visão do corpo padronizado, encerrado naquilo que a sociedade moderna estabeleceu como paradigma de beleza, para depois trazer à tona a possibilidade de apagamento daquele corpo, e posterior ruptura com a visão pré-estabelecida. Assim, Clarice Lispector, através de sua escrita, suscita uma releitura do feminino pensado por meio de uma ressignificação do corpo. Nesta pesquisa, buscar-se-á estabelecer uma relação entre a visão clariceana sobre corpo e a possibilidade de ressignificação do mesmo em diálogo com a filosofia de Nietzsche, pensador moderno que refletiu sobre a questão do corpo enquanto afirmação da vida.