Segundo Barros (2005) a semiótica de linha francesa, provinda das pesquisas de Algirdas Julien Greimas, foram desenvolvidas metodologias de análise de comunicação que são passíveis de aplicação em objetos textuais compostos por múltiplas linguagens. As contribuições da semiótica tensiva e as pesquisas de Luiz Tatit (2016) estabeleceram princípios metodológicos para abordagem da canção enquanto fenômeno cultural e texto sincrético, envolvendo linguagem verbal e musical. O instrumental de análise da semiótica, aplicado sobre textos cancionais é capaz de oferecer elementos que contribuem para a indicação de possibilidades de interpretação mais amplas do que aquelas oferecidas apenas pela análise do plano de conteúdo das canções, organizado pela letra escrita. A análise da música “Tempo de Pipa”, de Cícero Lins, partindo dos preceitos da semiótica cancional desenvolvida por Tatit, indica que a organização musical reflete sobre o sentido indicado pela letra, permitindo uma interpretação mais ampla do texto global a partir da percepção e compreensão do modo como ambas se compatibilizam. Os elementos depreendidos pela análise reforçam as evidências dos aspectos valorativos que, segundo Volochínov (2013), estão presentes na entonação, portanto, nos aspectos culturais brasileiros, sendo a canção popular um meio para representá-los e, da mesma maneira, a música em análise demonstra aspéctos culturais da cidade do Rio de Janeiro.