DIÁLOGOS ENTRE A HISTÓRIA E A FICÇÃO EM CAMINHOS DE SÃO TOMÉ
| Autores: Inara de Oliveira Rodrigues (UESC - Universidade Estadual de Santa Cruz) |
Resumo: No romance Caminhos de São Tomé (2017), a escritora Ana Paula Fontaínhas traça um painel histórico da situação de muitos cabo-verdianos que, na década de 1940, migraram para São Tomé e Príncipe diante da situação de fome e miséria que assolava as ilhas. A partir da trajetória da protagonista, Rosária, objetiva-se analisar questões identitárias, culturais e históricas que demarcaram intersecções entre os dois países insulares africanos, destacando-se, especialmente, a problemática da mestiçagem. Assim singularizada, intenta-se reconhecer a atualidade dessa temática que se pluraliza em seus processos históricos resultantes de conflituosas e perversas heranças do colonialismo, apresentando-se, sinteticamente, as principais discussões teórico-críticas liminares sobre o tema, de modo amplo, passando-se às revisões mais contemporâneas que fundamentam, entre outros, os termos “contra” e “antimestiçagem”, detendo-se, com mais vagar, nas análises de pensadores africanos sobre as especificidades das realidades histórico-culturais cabo-verdiana e santomense. Para tanto, adotam-se perspectivas teórico-críticas do campo da literatura comparada, desenvolvendo-se uma proposição norteada pelo comparativismo prospetivo (ABDALA JR., 2012), e apontam-se possíveis heranças revisitadas, reescritas e criticamente re-informadas dos pressupostos éticos/estéticos do neorrealismo literário português. Nesse processo analítico, desdobram-se também considerações sobre as atuais definições e problematizações acerca do romance histórico enquanto gênero narrativo. Espera-se, assim, demonstrar que esta primeira incursão ficcional da autora cabo-verdiana em destaque se constitui em relevante espaço dialógico entre a história e literatura, no qual se afirmam sentidos emancipatórios dos sujeitos/agentes representados.
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