Este trabalho faz parte de uma pesquisa maior, cujo objetivo é gerar entendimentos sobre as construções identitárias e afetivas de mulheres migrantes, por meio do arcabouço teórico-metodológico da Linguística Sistêmico-Funcional. Mais especificamente, nosso foco é a análise de narrativas geradas a partir da interação com uma das pesquisadoras e a obra literária "A hora da estrela", de Clarice Lispector. Dessa forma, nosso olhar está voltado para como a (re)elaboração de experiências na narrativa, a partir da leitura literária, (co)constrói afetos em relação à obra, discutindo a literatura como possível lócus de construção de saber mediado pelo prazer da leitura. Para tal, buscamos respaldo na Linguística Sistêmico-Funcional (HALLIDAY, 1994; HALLIDAY e MATHIESSEN, 2004) e no Sistema de Avaliatividade (MARTIN e WHITE, 2005), que pode fornecer embasamento teórico para pensar sobre a relação entre linguagem e emoção. Dessa forma, os pontos de avaliação são analisados, observando como afetos, julgamentos e apreciações são utilizados para a construção do ponto da história. Inserindo-se no campo da Linguística Aplicada (MOITA-LOPES, 2006), por fornecer instrumental teórico-metodológico para uma maior compreensão do discurso em interação (BASTOS e BIAR, 2015), este trabalho possui um cunho autoetnográfico (ELLIS, 2004), visto que também se desenvolve em um contexto familiar, em que uma das participantes e uma das pesquisadoras estão envolvidas em uma relação de parentesco. O alinhamento metodológico, ainda, se dá com a pesquisa qualitativa (DENZIN e LINCOLN, 2006), por ser um estudo situado em teorias de bases sociais e interpretativas. Os resultados indicam que os momentos avaliativos se mostram fundamentais para construção da narrativa, que entra em congruência com o contexto da leitura prévia da obra e da interação com uma das pesquisadoras, que desconhece a história.