Trata-se de uma pesquisa em curso que integra o doutoramento da proponente. Ora, tomando de empréstimo a espacialidade com a qual Paul Zumthor predica o campo de estudos da vocalidade, proponho refletir sobre a voz a partir do enquadramento das heterotopias diante do corpo utópico, conforme ditas por Foucault em 1967. Trata-se ademais de, no dispositivo da música popular brasileira (emprestando-se a noção de dispositivo de Foucault e Agamben para dar a ver as maquinarias e técnicas que produzem subjetividades, inteligibilidades, ordenamentos e auditibilidades a partir de performances, shows, discursos da crítica, gravadoras e seus peritos, produção de uma cultura musical brasileira, produtoras, discursos da intelectualidade, indumentárias, entrevistas, clipes, fã-clubes, entre outros), perscrutar a emergência de vozes que passam a ser enunciadas como acontecimentos, vozes resistentes a determinados regimes enunciativos do canto e da/o sujeita/o cantor/a (por exemplo, Aracy de Almeida diante de um regime predicado como "mirandismo" no começo do século XX ou os graves de Maria Bethania na época do cantar derivado do cool jazz praticado pela bossa nova), observando como tais discursos buscam extrair a verdade das vozes que enunciam e, a reboque, a partir dessa voz caracterizar aquela/e que canta. Busca-se, particularmente, compreender tais processos em relação para com os dispositivos de gênero e sexualidade em suas interseccionalidades.