Um sopro de vida, obra que se encontrava em fragmentos no momento da morte de Clarice Lispector em novembro de 1977, foi publicada postumamente com a intervenção de Olga Borelli, amiga próxima da autora. No enredo dessas “pulsações”, conforme Clarice definira sua narrativa, narrador e protagonista entram em cena em uma busca desesperada por um modo de entender melhor a iminência da morte—seja por doença ou velhice—e sua influência no plano de vida de um indivíduo. Nessa comunicação, proponho o retorno à obra da escritora brasileira, como o objetivo de melhor compreender a relação entre a consciência do fim iminente e a construção de um projeto de vida feminino (e feminista) em sua obra, mais especificamente em Um sopro de vida. Proponho que, neste romance pulsante, a morte é retratada não como um mero fim, mas como uma ferramenta produtiva que contribui para o reconhecimento da responsabilidade ética por parte da mulher, incluindo a autora projetada, Clarice Lispector, e sua protagonista, Ângela Pralini. Para minha análise, faço referência a outras escritoras nacionais e estrangeiras contemporâneas a Clarice, asim como à crítica feminista de Hélène Cixous e Julia Kristeva, que chama atenção para a relevância do corpo (no caso deste estudo, um corpo perto de sua extinção) para a compreensão da escrita clariceana. Na construção de meu argumento, também me refiro às leituras críticas de Anna Klobucka, Marta Peixoto, Berta Waldman e Yudith Rosenbaum sobre a obra da escritora brasileira.