Este trabalho tem por objetivo realizar uma breve análise do conto Felicidade clandestina (1998), de Clarice Lispector, considerando o quadro teórico da Linguística Textual, mais especificamente no que diz respeito aos sistemas de conhecimento acessados durante o processamento textual. A Linguística Textual é o campo da Linguística Moderna que tem como foco o texto. Surgiu no final da década de 60 e perdura até os dias atuais. Trata-se de um campo heterogêneo, que necessita rever constantemente os conceitos de texto e contexto. Vale ressaltar que, como pontua Ingedore Grunfeld Villaça Koch (1995), mesmo dentro da Linguística Textual, que tem como objeto o texto, o conceito de texto pode variar, dependendo do autor ou da orientação teórica abordada. Sendo assim, o texto, desde o surgimento da Linguística Textual até a atualidade, foi sendo visto de diversas formas: ora como uma unidade linguística superior à frase; ora como um conjunto de proposições semânticas; como uma sequência de atos de fala; como fenômeno psíquico ou como parte de atividades de comunicação, dependendo da orientação adotada (KOCH, 1995). Neste trabalho, buscaremos estudar um pouco os sistemas de conhecimento acessados durante o processamento textual, quais sejam: o linguístico, o enciclopédico e o interacional, conforme KOCH (1995), recorrendo a Heinemann & Viehweger (1991). Para tanto, consideraremos uma definição de texto da referida autora que envolva aspectos linguísticos, em uma organização linear, assim como aspectos semânticos, processos e estratégias cognitivos e mais, prevê a interação conforme aspectos socioculturais. Fazemos essa observação porque pretendemos realizar uma análise que, ao comentar os sistemas de conhecimento acessados durante o processamento textual, leve em consideração não apenas aspectos da ordem da coesão, ou puramente daquilo que diz respeito à coerência e à semântica, mas que pense também aspectos referentes à interação entre sujeitos e entre estes e o texto.