O coração cavo no peito da cidade: espaço e gênero em Clarice Lispector | Autores: Ninalcira de Lemos Sampaio (UFG - Universidade Federal de Goiás) |
Resumo: Em seu texto “O manifesto da Cidade”, que compõe a coletânea Onde estivestes de noite (1974), Clarice Lispector fala sobre a cidade realizada (já fundada) e o ato de olhá-la por uma janela. A cidade traçada com engenhosidade por pedreiros, carpinteiros, santeiros, artesãos que contaram com a morte – para que nascesse então a cidade. Ainda que seu último terremoto se perca em datas, alguma coisa escapa à rosa-dos-ventos. Surge um cavalo e, junto ao inusitado da aparição – primitivo? -, quem olha a cidade pela janela sente que há alguma coisa escrita a carvão numa parede. A partir da imagem da rosa dos ventos ou rosa náutica - que surge da necessidade de indicar um sentido, de auxiliar na localização de um corpo - adotaremos duas personagens da obra clariceana para analisarmos a relação entre espaço e gênero na literatura. A primeira delas, Lucrécia Neves, de A cidade sitiada (1949), que vive em simbiose com o subúrbio de S.Geraldo ao mesmo tempo em que sufoca-se com a monotonia do espaço ao qual ela dá vida. A outra, Macabéa, de A hora da estrela (1977), nordestina que migra para a cidade do Rio de Janeiro. As duas personagens deambulam pela urbe e buscam encontrar seus lugares como existentes através da relação que estabelecem com os espaços. Para cumprir tal empreitada analítica, tomaremos a categoria de espaço como ferramenta para entendimento de mundo e construção de identidade e teóricos como Luís Alberto Brandão, Michel de Certeau, Raquel Rolnik, Lewis Mumford, Henri Lefebvre, Doreen Massey, Sandra Jatahy Pesavento nortearão as concepções acerca do espaço assim como Margareth Rago, Michelle Perrot, Heloísa Buarque de Hollanda e Regina Delcastagnè nos ajudarão a atrelar tais concepções com o gênero na literatura.
|
|