O processo de dispersão e errância provocados pela diáspora negra no Novo-mundo originou, além das perdas, dos vazios, da desumanização e da violência, processos de resistência, de crioulização (Édouard Glissant), de criatividade estética e de novos modos de existência. Neste sentido, tomando o Atlântico Negro (Paul Gilroy) como ponto fulcral para os processos de crioulização surgidos com a diáspora negra, consideraremos o romance Um defeito de cor (2006), da escritora mineira Ana Maria Gonçalves, e a novela Pôncia Vicêncio (2003), da também mineira Conceição Evaristo, para refletirmos sobre as relações entre errância e resistência. Assim sendo, focaremos nas configurações das novas subjetividades que foram moldadas por grandes deslocamentos e que deram vazão ao surgimento de culturas transnacionais, “Afropolitanas” (Achile Mbembe). Além disso, investigaremos o papel da errância e da desterritorialização na produção destas novas subjetividades, tanto nos grandes deslocamentos transnacionais presentes na obra de Ana Maria Gonçalves, através da personagem Kehinde, quanto nos trajetos errantes de Ponciá Vicêncio entre o interior e a capital, na novela de Conceição Evaristo. Por fim, as questões relativas à memória individual e coletiva, à ancestralidade, às identidades pós-modernas, e ao legado da diáspora, também serão consideradas sob o prisma múltiplo da errância, que orientará o nosso trabalho.