Imprimir Resumo


Simpósio Mundial de Estudos de Língua Portuguesa
Resumo


Resistência discursiva: identidades de gênero tensionadas na fala-em-interação

Autores:
Mariléia Sell (UNISINOS - Universidade do Vale do Rio dos Sinos)

Resumo:

Esta pesquisa, inserida nos marcos teóricos da Etnometodologia (GARFINKEL, 1967) e da Análise da Conversa (SACKS, 1992) analisa qualitativamente interações entre conselheiro tutelar e crianças vítimas de abuso sexual. O objetivo é perceber como são tensionadas as identidades de gênero, o que é especialmente relevante em épocas de patrulhamento moral contra a alegada “ideologia de gênero” nas escolas e em tempos de ameaça aos direitos básicos da pessoa humana. Dentre os aspectos negociados neste encontro social (e.g. performance identitária de criança e de vítima) estão as performances identitárias de gênero. Algumas características socialmente indexicalizadas a meninos e meninas sobem à superfície da fala e são negociadas juntamente com a identidade de “vítima ideal” (TRINCH, no prelo). Nesta negociação os/as interlocutores/as acionam uma série de estratégias linguístico-interacionais para reestabelecer a ordem perturbada (i. e. o abuso sexual) (LINELL; ROMMETWEIT, 1998), exercendo ativamente o seu papel de “agentes morais” (DREW, 1988). Determinadas características assumidas como femininas (i. e. provocar o abuso pelo seu comportamento “inadequado”) e masculinas (i. e. não ceder aos apelos de uma “sexualidade irracional”) são tensionadas na sequencialidade interacional. Neste tensionamento, é possível perceber movimentos de resistência aos modelos identitários e aos roteiros de significação da experiência do abuso pelas crianças, revelando que não existem identidades externas ao discurso. Contudo, essa vocação híbrida das identidades torna-se uma ameaça a todos/as que não estão inseridos nos grupos validados em uma sociedade cada vez mais marcada pelo conservadorismo, como a brasileira.