Tendo como pressuposto teórico, de acordo com a teoria da gramaticalização, o apagamento de uma categoria como o último estágio do processo, em que um item gramatical pode desaparecer por ter-se tornado antifuncional (VITRAL, 2006; BITTENCOURT, 2009), este estudo objetiva investigar os fatores sintático-semânticos condicionantes do fenômeno de supressão de pronomes reflexivos no português falado em países africanos, em especial Angola, Cabo-Verde e Guiné-Bissau. Para tanto, realizar-se-á uma análise comparativa a partir de corpus constituído por um conjunto de textos acadêmicos (monografias e projetos de dissertação) de alunos da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB); notícias e artigos veiculadas nos jornais “A Semana” (Cabo Verde), “Bissau Digital” (Guiné-Bissau) e “O país” (Angola); e documentos oficiais das Nações Unidas na África, escritos em português; a fim de verificar como a variação em estudo se dá em diferentes modalidades da língua escrita. Os resultados encontrados serão analisados à luz dos pressupostos do Funcionalismo Linguístico norte-americano (DIK, 1978; 1980; 1983; GIVÓN, 1979; 1983; 1993; 1995; 2012), buscando descrever os graus de continuidade referencial e as regras de incorporação envolvidas no fenômeno, a fim de comprovar nossa hipótese quanto à progressiva perda de funcionalidade dessa categoria de clíticos, cujas marcas estruturais têm se tornado opacas nas diferentes variantes contemporâneas das variedades não europeias do português.