Caleidoscópio discursivo e cultural, o rap é um exemplo de hibridismo fantástico. Cânone e profano, “junto e misturado” (conforme a expressão popular), mixando os gêneros e dando luz ao novo-velho. Carregado da tradição oral do narrar cantado dos povos africanos, enraizado no valor da experiência e no peso do testemunho, como nas narrativas clássicas, as narrativas de rap rompem com as fronteiras dos silenciamentos e se apresentam.  Neste trabalho de pesquisa, procuramos refletir sobre esse espaço discursivo-cultural, ouvindo, dialogicamente (BAKHTIN [1992a; 1992b; 1993; 2005; 2010], as vozes desses sujeitos a partir da análise de Raps produzidos em Batalhas de Rimas realizadas em um evento de Hip Hop da Grande Vitória, ES. Chamamos a atenção para as práticas voltadas aos movimentos afirmativos, qeu carregam o peso de uma dada realidade, mas, também, o tom, as cores, a melodia, enfim, a estética dessa mesma realidade. As batalhas de rimas representam esteticamente os desafios enfrentados diariamente por aqueles que estão sempre à margem de um sistema oficialmente instituído e, quando observados de forma masi cuidadosa e menos estigmatizada, percebemos a riqueza dessas batalhas e a potência política e poética de seus dizeres. Acreditamos, enfim, que essas vozes colocam em discussão tensões sociais típicas de nossa contemporaneidade, indiciando processos dinâmicos e complexos, no que tange a questões de identidade, subjetividade, territorialidade, entre outras. Desse modo, a análise discursivo-cultural, isto é, uma análise que procura colocar em diálogo as teorias do discurso e os estudos culturais, pode construir uma compreensão crítica do movimento hip hop, da poética do rap e de sua inscrição na realidade social.