A resistência aos regimes ditatoriais latino-americanos em "O livro de Manuel", de Julio Cortázar | Autores: Weverson Dadalto (IFES - Instituto Federal do Espírito Santo ) |
Resumo: O livro de Manuel, de Julio Cortázar (1973), expressa em sua própria forma, fragmentada e plural, aquilo que pretende narrar: as ações revolucionárias e contestatórias de sujeitos inconformados com a ordem fechada e violenta não só dos regimes políticos ditatoriais em vários países, mas também de toda pretensão de totalidade em concepções e conceituações da realidade. Nesse seu último romance, Cortázar faz convergir sua intensa produção literária, de um lado, e sua militância política, de outro. Sem ceder ao risco de produzir um romance realista ou panfletário, o autor subverte a narrativa e a linguagem tradicionais para afastar-se e afastar o leitor do habitual, do cotidiano, do pré-determinado, em que se escondem preconceitos, tabus e posturas conservadoras, incoerentes com as tentativas de transformação política e social. A forma de O livro de Manuel é coerente com sua proposta narrativa: a obra não adota uma perspectiva única; ao contrário, reúne fragmentos caóticos e contraditórios por meio dos quais a linearidade narrativa, a sintaxe e mesmo a ortografia tradicionais são profundamente abaladas. Juntamente com a abundante colagem de notícias e matérias da imprensa, aparecem no livro tabelas de dados econômicos e militares, relatos verídicos de torturas, transcrições literais de telegramas e cartas, assim como textos publicitários, poemas e testemunhos. A partir de estudos de Arrigucci Jr. (2003), Hutcheon (1991) e Yurkievich (2004), dentre outros, este trabalho pretende investigar como Cortázar busca empregar a escrita como uma arma frente aos sistemas de dominação de qualquer espécie. Além disso, e de maneira mais particular, a partir da análise do romance em questão, este estudo busca compreender como Cortázar assumiu um posicionamento de resistência diante dos regimes ditatoriais latino-americanos.
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