Este estudo parte do filme “A fonte das mulheres” (La source des femmes), do diretor Radu Mihaileanu, indicado à Palma de Ouro no Festival de Cannes em 2011, com o objetivo de refletir sobre as opressões de gênero e como a força feminina  pode atuar na transformação social. Inspirado em um fato real, a história se passa em uma pequena aldeia castigada pela seca. Lá, as mulheres são responsáveis por buscar água em uma fonte distante do povoado. Para isso, são obrigadas a percorrer longo trajeto debaixo de sol forte, por caminhos acidentados, carregando pesados potes de água até a vila, enquanto os homens, desocupados, ficam somente observando, amparados por uma tradição iniciada em tempo de guerra, quando havia poucos homens no local, e mantida muito tempo depois de celebrada a paz. Lideradas por Leila, esposa do professor da aldeia, as mulheres revoltam-se e iniciam uma greve de sexo que, segundo elas, seria a única maneira de mudar aquele comportamento machista. A “Fonte das Mulheres” faz eco intertextual da peça “Lisístrata”, do grego Aristófanes, cujas mulheres também decidem empreender uma greve de sexo até que seus maridos parem com a guerra e decretem a paz.  Importantes temas são levantados na película. Dentre eles a divisão desigual das atividades entre homens e mulheres, a atribuição de valores sociais e familiares impostos à figura feminina em uma sociedade de rígidas tradições mulçumanas, suscita questões religiosas, quando o próprio líder religioso local diz que: “... as mulheres virtuosas são obedientes...” O enredo intercala, harmoniosamente, situações dramáticas e humorísticas, fato que confere leveza à narrativa apesar do conteúdo denso e complexo. É poesia em forma de filme. Como fundamentação teórica, destacamos os estudos de Jean-Claude Carrière, Walter Murch, Tânia Pellegrini e Bella Jozef.