Este trabalho tem como objetivo compreender a natureza da comunicação epistolar do poeta sergipano Hermes Fontes (1888-1930) através da análise textual (perspectiva filológica) de um conjunto de 44 cartas manuscritas ativas enviadas pelo poeta a familiares, especialmente a suas irmãs Laura e Lucinda, entre 1903 e 1930, as quais estão salvaguardadas no Museu Raimundo Fernandes da Fonseca, em Boquim (SE). O trabalho em torno de tais missivas segue os pressupostos teóricos e operatórios da Filologia e suas ciências afins, como a Codicologia, a Paleografia e a História Cultural da Escrita, especialmente no que se refere ao exame do contexto material e de produção, circulação e recepção das cartas, além da sua relevância para a investigação da vida do autor e a gênese de sua obra. Como procedimento metodológico, realizou-se, primeiramente, o exame dos aspectos materiais dos textos, considerando grau de conservação, suporte e instrumentos utilizados na escrita, tipos de filigranas, mancha do texto, características da grafia, etc.; de suas condições de produção, como o conteúdo temático, o sujeito a quem o texto se dirige, o propósito que motivou a produção do texto, considerações sobre o gênero textual e o tom dispensado ao texto; de sua esfera de circulação e do seu contexto de recepção. Os resultados preliminares apontam para graus variados de conservação em decorrência da ação do tempo ou de agentes internos e externos (tinta ferrogálica, ação de papirófagos, manuseio constante após arquivamento) como também constatam que grande parte dos manuscritos dispõe de filigranas, que indicam a sua procedência, e de grafismos particulares do autor, que deixam a sua escrita muito encadeada e irregular. Ademais, a prática da escrita de cartas, endereçadas, especialmente, aos seus familiares e amigos próximos, configurou-se também como fator decisivo para o empreendimento e consolidação de seus ofícios.