Milton Hatoum e a concessão do lugar comum sobre a Amazônia em Órfãos do Eldorado. | Autores: Marli Tereza Furtado (UFPA - Universidade Federal do Pará) |
Resumo: Em 2008, o escritor amazonense, Milton Hatoum (1952), lança seu quarto romance: Órfãos do Eldorado. Os três primeiros, Relato de um certo Oriente (1989), Dois irmãos (2000) e Cinzas do Norte (2005) lhe renderam três prêmios Jabuti de melhor romance e o lançaram para além das fronteiras amazonenses e brasileiras. Nesses romances, Hatoum trabalha de maneira exemplar a técnica narrativa, que faz emergir tempo e espaço, dando densidade aos dramas das personagens, mesmo aos daquelas que atuam pouco no enredo. Em Relato de um certo Oriente, o leitor não só se envolve no relato e no drama de uma mulher que retorna à casa de sua infância, após longa ausência, mas no de outras tantas personagens, graças às diferentes vozes que se encaixam à voz da narradora ‘primeira’, cuja memória individual recupera a memória coletiva. Já em Dois irmãos, além da progressão desse modo de narrar entre o relato pessoal e o testemunho, acentuam-se os dramas das relações familiares, que contribuem para a tradução de seu espaço: a cidade de Manaus. Em Cinzas do Norte, o enfoque nas relações familiares direciona-se para a relação pai e filho, sendo que a personagem do filho, por sua atuação como artista, distende o enredo para outros centros urbanos, ampliando a temporalidade até os anos 70 do século passado. Em Órfãos do Eldorado, Hatoum verticaliza o enfoque na relação pai e filho, agora retomando o período da borracha, época áurea para a economia da Amazônia e que rendeu vasta literatura sobre a região. Nosso objetivo, neste trabalho, é analisar este último romance de Hatoum observando em que medida o autor ressignifica, ou não, uma tradição sobre a Amazônia caracterizada entre o “inferno verde” e o Eldorado. Para tanto, localizaremos a obra no contexto da literatura brasileira e no contexto da produção de Hatoum.
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