Conforme já pontuado por diversos estudos, durante o período colonial, o tráfico negreiro foi muito intenso e, nesse processo, milhões de negros foram violentamente arrancados de suas aldeias, em várias regiões do continente africano e trazidos para determinados portos e feiras, onde se dava a sua comercialização como escravos. Segundo informações coletadas no Banco de dados do tráfico transatlântico de escravos (SLAVE VOYAGES, 2013), o Brasil foi o principal destino dos cerca de 12,5 milhões de negros transportados à força entre a Costa da África e as Américas, sendo o Rio de Janeiro, a Bahia e Recife os principais portos de desembarque do tráfico no Brasil. Para além da edição de textos, pretende-se, a partir da leitura de fontes primárias do período colonial, refletir sobre os novos perfis socioculturais que se delinearam para os negros, que deixando para trás suas origens, passaram a construir, na América portuguesa uma nova identidade, com silenciamento e subjugação de seus traços culturais, assumindo forçadamente a cultura do dominador, ao tempo em que contribuíam decisivamente na edificação econômica, e na reconfiguração das práticas culturais no Novo Mundo. A fundamentação teórica constitui-se em perspectiva multidisciplinar incluindo, além dos estudos filológicos (MCKENZIE, 2018 [1999], CAMBRAIA, 2005; SPINA, 1997); a Paleografia (ACIOLI, 1994), ciência que orienta a leitura de manuscritos; a Diplomática (DURANTI, 2015; BELLOTTO, 2002), que estuda a autenticidade do documento e a História cultural (CHARTIER, 2002; LE GOFF, 1994) para respaldar o estudo das práticas culturais.