Destino da Europa, destino no Brasil: apontamentos sobre a tradução de Alberto Savinio | Autores: Julia Scamparini (UERJ - Universidade do Estado do Rio de Janeiro) |
Resumo: Toda experiência de tradução pressupõe uma viagem, ainda que o autor e seus escritos compartilhem da época em que o tradutor trabalha. Adentrar o universo lexical, sintático, estilístico de um literato, também vestir-se de seu pensamento, sua lógica, para então transmutar na língua alvo todo um mundo subjetivo, um pensamento, formas de ver o mundo real que passarão a ser compartilhadas por novos leitores. Itália e Brasil são países de cultura ocidental, e o livro Sorte dell'Europa, de Alberto Savinio, trata de um tempo não tão distante, mas de uma experiência de guerra que conhecemos por meio de narrativas, mas não da experiência em si. Assim, a viagem, neste caso, segue para dentro de uma olhar crítico, de um olhar-no-tempo que quase transforma o tradutor em um ator, que finge viver uma experiência de vida. Esta operação impõem cuidados na percepção de modelos cognitivos idealizados (MCI) específicos de uma época, sua adaptação à contemporaneidade, e propõe ao tradutor o conhecido desafio de ter de escolher entre aproximar-se ao texto de partida, ou ao texto de chegada. Proponho compartilhar esta experiência de tradução, cujos percalços foram pensados a partir da perspectiva da Linguística Cognitiva, sobretudo as teorias dos MCIs e dos espaços mentais. Acredito que o pensamento sobre a tradução pode ganhar contribuições provindas dessas teorias, que, à luz do proceso tradutório, firmam-se não somente como conceitos-chave para a comunicação humana, mas evidenciam que escolhas podem dizer muito sobre o tradutor, além da obra que traduz.
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