RESUMO: As crianças ciganas crescem em um contexto cultural multilíngue. Dada essa constatação, este trabalho tem como objetivo compreender a matriz dialógica multimodal presente na interação entre adulto e criança cigana calon. Para tanto, teoricamente nos apoiamos na concepção dialógica de linguagem difundida nos escritos de Bakhtin e do Círculo; discutimos a instância de língua na perspectiva da multimodalidade, em que gesto e fala formam uma única matriz de significação, segundo McNeill (2000, 2006) e Kendon (2000) e na reflexão apresentada por Kita (2009) para discutir a relação entre gestos e cultura. Trata-se de uma pesquisa qualitativa do tipo estudo de caso. Os dados foram coletados de forma naturalística durante oito meses em uma família pertencente a uma comunidade de ciganos calon sedentarizados a aproximadamente trinta anos no sertão da Paraíba, falantes do Português brasileiro e da chib de calon. Os resultados apontam para algumas singularidades na entrada da criança cigana calon na linguagem, conforme o estudo desenvolvido por Lima (2017). Dentre estas, o gesto emblemático (Kendon, 2000) concorrente às palavras jurin e juron (da chibe de calon) podem ser vistas nos enunciados analisados nesse recorte enquanto matriz dialógica multimodal da identidade calon emergindo na entrada dessa criança na língua.